quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mestre Pastinha e Mestre Bimba


Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889, filho do espanhol José Señor Pastinha e de Dona Maria Eugênia Ferreira. Seu pai era um comerciante, dono de um pequeno armazém no centro histórico de Salvador e sua mãe, com a qual ele teve pouco contato, era uma negra natural de Santo Amaro da Purificação e que vivia de vender acarajé e de lavar roupa para famílias mais abastadas da capital baiana.

Menino ainda, Pastinha conheceu a arte da capoeira com apenas 8 anos de idade, quando um africano que chamava carinhosamente de Tio Benedito, ao ver o menino pequeno e magrelo apanhar de um garoto mais velho resolveu ensinar-lhe a arte da capoeira. Duran te três anos, Pastinha passou tardes inteiras num velho sobrado da rua do Tijolo em Salvador, treinando golpes como meia-lua, rasteira, rabo de arraia e outros. Ali ele aprendeu a jogar com a vida e a ser um vencedor.

Viveu uma infância feliz, porém, modesta. Duarante as manhãsfreqüentava aulas no Liceu de Artes e Ofício, onde também aprendeu pintura. À tarde, empinava pipa e jogava capoeira. Aos treze anos era o moleque mais respeitado e temido do bairro. Mais tarde , foi matriculado na Escola de Aprendizes Marinheiros por seu pai, que não concordava muito com a vadiagem do moleque. Conheceu os segredos do mar e ensinou aos colegas as manhas da capoeira.

Aos 21 anos voltou para o centro histórico, deixando a Marinha para se dedicar à pintura e exercer o ofício de pintor profissional. Suas horas de folga eram dedicadas à prática ca capoeira, cujos treinos eram feitos às escondidas, pois no início do sécul o esta luta era crime previsto no código penal da república.

Em fevereiro de 1941, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, no casarão número 19 do Largo do Pelourinho. Esta foi sua primeira academia-escola de capoeira. Disciplina e organização eram regras básicas na escola de Pastinha e seus alunos sempre us avam calças pretas e camisas amarelas, cores do Ypiranga Futebol Clube, time do coração de Pastinha.

Mestre Pastinha viajou boa parte do mundo levando a capoeira para representar o Brasil em vários festivais de arte negra. Ele usava todos os seus talentos para valorizar a arte da capoeira. Fazia versos e chegou a escrever um livro, Capoeira Angola, publ icado em 1964, pela Gráfica Loreto.

Pastinha trabalhou muito em prol da capoeira, divulgou a arte o quanto lhe foi possível e foi reconhecido por muitos famosos que se maravilhavam com suas exibições.

Aos 84 anos e muito debilitado fisicamente, deixou a antiga sede da academia para morar num quartinho velho do Pelourinho, com sua segunda esposa, Dona Maria Romélia e a única renda financeira que tinha era a das vendas dos acarajés que sua esposa vendia . No dia 12 de abril de 1981, Pastinha participou do último jogo de sua vida. Desta vez, com a própria morte. Ele, que tantas vezes jogou com a vida, acabou derrotado pela doença e pela miséria. Morreu aos 92 anos, cego e paralítico, no abrigo D. Pedro II , em Salvador.

Morreu Mestre Pastinha numa sexta-feira, 13 de novembro de 1981, vítima de uma parada cardíaca que, no estado frágil em que se encontrava, foi fatal.

Pequeno e notável em sua arte, Pastinha nos deixou seus ensinamentos de vida em muitas mensagens fortes e inesquecíveis como esta:

"NINGUÉM PODE MOSTRAR TUDO O QUE TEM AS ENTREGAS E REVELAÇÕES, TÊM QUE SER FEITAS AOS POUCOS. ISSO SERVE NA CAPOEIRA, NA FAMÍLIA E NA VIDA. HÁ MOMENTOS QUE NÃO PODEM SER DIVIDIDOS COM NINGUÉM E NESTES MOMENTOS EXISTEM SEGREDOS QUE NÃO PODEM SER CONTADOS A TODAS AS PESSOAS." Mestre Pastinha 10/10/80




Manoel dos Reis Machado era filho de Luiz Cândido Machado e de Dona Maria Martinha do Bonfim, nasceu dia 23 de novembro de 1899, no bairro do Engenho Velho em Salvador/BA, lado da Freguesia.
Seu apelido - BIMBA - resultou de uma aposta da parteira com a sua mãe, pois Dona Martinha acreditava que daria à luz uma menina e a parteira dizia que seria menino. A parteira ganhou a aposta e o pequeno Manoel recebeu o apelido de Bimba, por ser este o nome popular dado ao órgão sexual do homem na Bahia, referindo-se às crianças.

Começou na arte da capoeira com menos de 12 anos, tendo por mestre e professor um negro africano chamado Bentinho, que era capitão da Companhia Baiana de Navegação. Seu aprendizado com Bentinho durou cerca de quatro anos e após este período passou a ensinar o que aprendeu e lecionava Capoeira Angola na capitania dos portos da Bahia. Bimba fez por mais de dez anos.

Mestre Bimba fundiu a Capoeira Angola com o Batuque, um tipo de luta que aprendeu com seu pai, que era campeão absoluto na Bahia, dando-lhe uma roupagem nova, um novo estilo, tornando-a mais rápida e ágil. Este novo estilo foi chamado Luta Regional Baiana, por ser praticado, na época, somente na região de Salvador e mais tarde, já em franca expansão foi chamado de Capoeira Regional.

Em 1932, fundou sua primeira academia-escola de Capoeira Regional no Engenho de Brotas em Salvador. Era o Centro Cultural Físico Regional Baiano. A partir daí, Mestre Bimba começou a ser conhecido e a ficar famoso e ganhou dentre muitos o título "Pai da Capoeira Moderna".

Só em 1937 obteve o registro de sua academia junto à Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública de Salvador e em 1942 fundou sua segunda academia no Terreiro de Jesus - rua das Laranjeiras, hoje rua Francisco Muniz Barreto, 1, onde continua funcionando, sob a direção de seu ex-aluno Vermelho-27.

Traído por falsas promessas do governo, falta de apoio e dificuldades financeiras, Mestre Bimba morreu em 15 de fevereiro de 1974, no Hospital das Clínicas de Goiânia, vítima de derrame cerebral.

Mestre Bimba foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas principalmente, capoeirista, MESTRE DE CAPOEIRA e a chama de sua existência estará sempre acesa no coração e na mente de todos os capoeiristas regionais, recebendo assim o reconhecimento de várias gerações e a consagração de sua genialidade e da sua mais conhecida criação, a CAPOEIRA REGIONAL.

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